Nos primeiro meses de 1998, lá se vão onze anos, dona
Carmem Divina Costa
não chegava a ser desconhecida, já que mãe de cantores famosos, mas conseguia levar uma vida tranqüila em Goiânia, sem
muitos compromissos nem assédios, com alguns filhos sempre por perto e outros sem ver com a freqüência que gostaria.
Muito alegres, animados para festas nas fazendas e unidos pelo amor, essa “família Buscapé”, como
Leonardo
bem a define, não podia imaginar o baque que sofreria na véspera do dia de São João.
O pesadelo começou em 21 de abril. Quando deveria estar vivendo um dia muito feliz com o nascimento de mais um neto,
José Felipe,
dona Carmem
recebeu a notícia de que
Leandro
estava internado em São Paulo. Não consigo nem mesmo imaginar como deva ter sido difícil para Leonardo dar essa notícia aos
pais. Acho que começava ali uma grande lição de fé que Deus quis me dar e a milhões de pessoas que, fãs da dupla ou até
mesmo tendo um outro gênero musical como o preferido, se sensibilizaram com tudo que nos foi sendo mostrado durante os 62
dias em que
Leandro,
doente, ainda estava entre nós. Infelizmente, aos poucos as notícias também foram nos mostrando que o final daquele
pesadelo não seria o que nossa esperança pedia.
Tão jovem, completando exatamente 36 anos e 10 meses, no dia 15 de junho
Leandro
começou a nos dizer adeus. Desde abril, por dois meses tivemos grandes lições a aprender com aquela família que foi o
maior exemplo de dignidade e fé que jamais vi. No dia de São João, 24, o corpo de
Leandro
foi conduzido à sua última morada. Sua alma, entretanto, já havia atendido ao chamado do Pai Eterno, já era
LUZ
para todos nós. Certamente, naquele momento não nos era possível entender porque Deus o havia chamado.
Em bem poucos meses, porém, as razões divinas já nos mostravam porque ele havia permanecido por tão poucos anos entre nós.
A dupla
Leandro
&
Leonardo,
que já havia realizado muitos shows beneficentes e participado de várias campanhas para ajudar entidades filantrópicas,
em seu último período de férias, liderou a campanha “Latinha pela vida”, importantíssima para salvar muitos doentes
de câncer.
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O próximo, e último, CD da dupla, “ Um sonhador”, arrecadou quantias fundamentais
para a melhoria de algumas instituições que cuidam de portadores de câncer.
Meras coincidências?
Para mim, “deusdências” que provam claramente uma afirmação que considero das mais
acertadas:
“Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”
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Penso que
Leandro
foi um desses escolhidos para fazer o bem, plantar o bem, orientar para o bem. Foi assim
que, já doente e sem saber qual seria seu futuro, ele pediu à mãe que o ajudasse a criar
uma instituição filantrópica que acolhesse pessoas carentes portadoras de câncer, que
assim teriam como permanecer em Goiânia o tempo necessário para a dura luta contra a
doença. Toda a família se movimentou e a instituição foi criada.
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À frente da
Casa de Apoio São Luiz,
dona
Carmem
se tornou um grande exemplo de luta, de superação e entrega, a tal ponto que em maio
seguinte recebeu o título de “Mãe do Ano”. Com certeza o grande mentor dessa obra,
Leandro,
é quem mais a aplaude, abraça com muito carinho e incentiva. De longe? Não! Ele sempre
estará bem perto.
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Mas a missão de
Leandro
não terminou ali. Ele precisava deixar entre nós quem pudesse garantir a continuidade de
todo o bem que ele aqui plantou.
Leonardo
teria que continuar em frente na estrada da música para assim poder realizar outros shows
beneficentes e dar suporte à
Casa de Apoio São Luiz.
E foi
Leandro
quem o preparou para a carreira solo quando pediu que o irmão não parasse de cantar e,
mais, que continuasse cantando sozinho enquanto ele era submetido àquele tratamento que
poderia trazer, ou não, a cura daquela doença maldita.
Foram muitos meses de incerteza e lágrimas, mas aos poucos tivemos o exemplo de força
daquele que um povo inteiro queria colocar no colo e poder sussurrar em seu ouvido as
palavras certas, palavras que não eram encontradas. Queríamos e precisávamos lhe dizer
que continuasse cantando. Graças a Deus, impulsionado por sua família,
Leonardo
entendeu que devia seguir a vontade de seu irmão. Nós seguimos “fazendo a segunda voz”,
como
Leandro
nos pediu. Acho que o carinho de um povo que sofreu a perda do ídolo, mas viu sua mãe,
fortalecida pela Fé, impulsionar seu irmão
Leonardo
para os palcos, também foi fundamental para que hoje tenhamos no mundo artístico esse
ídolo sertanejo-romântico ou romântico-sertanejo que completa nossas vidas.
Não recebi de minha família uma boa orientação religiosa, já que meu pai era ateu e minha
mãe não seguia, verdadeiramente, nenhuma religião. Entretanto, Deus quis que eu
desenvolvesse por mim mesma a minha Fé em Deus e devoção aos Santos da Igreja Católica.
Mas foi da minha “mãezinha do coração”, dona
Carmem,
que recebi o maior ensinamento da importância da Fé. Sua amizade me permitiu constatar de
perto a força da humildade, da bondade e do verdadeiro amor, pois foram essas as armas
que Deus deu a essa mãe para que partisse exatamente dela a força maior para que
Leonardo
continuasse na música. Em 30 de maio de 1999, a confirmação de uma vitória:
Leo
fez seu primeiro show solo em Goiânia.
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Mesmo sabendo que posso me tornar repetitiva, vou
dizer que não acredito em coincidências e sim em “deusdências”. Vejam só: Fui pegar um
DVD para nesta madrugada me fazer companhia enquanto cumpro meus 80 minutos diários de
esteira. Pode até parecer mentira, mas qual DVD me veio à mão? O de número 142 da minha
lista, que me trouxe exatamente o show de
Leonardo
na 54ª Exposição Agropecuária de Goiás, em 30 de maio de 1999. Mesmo não sendo oficial,
a gravação feita por uma produtora de vídeo tem imagem muito boa, o que me permitiu
vivenciar bem aquela apresentação e perceber o que
Leonardo
sentiu naquele palco.
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Perseverança aliada a um temperamento por natureza muito alegre e otimista. Este é o
retrato-falado do artista que vejo no palco: um
Leonardo
alegre, distribuindo carinho, levando felicidade e aliviando as mentes, quantas delas
também cheias de problemas, daqueles fãs que formavam aquela multidão a cantar, dançar e
a gritar por ele. Em muitos momentos, a emoção da lembrança de
Leandro
quase traiu sua determinação, mas
Leo
foi sempre mais forte. Em “Eu juro” ficou clara sua “conversa” interior com o irmão, e
ao olhar para o Céu a ele entregou não só a canção, mas com certeza os aplausos recebidos
e todo o sucesso daquele show.
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Quantos momentos felizes da dupla me vêm à memória
quando ouço
Leo
cantar sozinho
as músicas que por tantos anos ouvi de duas vozes
que se completavam com perfeição inigualável.
Quase vejo
Leonardo
sorrindo
ao recordar os incontáveis momentos felizes vividos com
Leandro.
É muito bonito de se ver:
Tanto amor, tanta saudade, mas acima de tudo a Fé,
construída na infância e no contínuo exemplo da mãe,
sendo a mais forte mão a mantê-lo firme nas estradas da vida e dos palcos.
Agradeço a Deus por seu temperamento,
fator determinante para que
Leonardo
tenha optado por manter do irmão
Leandro
a saudade alegre,
por conseguir “chutar a tristeza para escanteio”, como ele costuma dizer,
e, assim, ser capaz de continuar sua missão de levar felicidade a tantas e tantas multidões
que o seguem nos shows e até àqueles que em casa ouvem seus CDs e o “encontram” pelos DVDs.
Esta semana estourou nas rádios a primeira música do seu novo trabalho,
gravado em 24 e 25 de abril no Credicard Hall.
“ESSE ALGUÉM SOU EU”.
Linda, forte, ao mesmo tempo que delicada,
de sua letra, extraio duas linhas que bem podem definir nosso amor por
Leandro
e por
Leonardo:
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