Numa plantação de tomates, perto de Goiânia, vivia um garoto muito tímido e arteiro que um dia seria o nosso tão querido Leonardo. Muito pobre, dividindo o quase nada com os pais e irmãos, encontrava felicidade nas fugas para os campos de várzea onde alimentava o sonho de ser jogador de futebol.
Nessa mesma plantação de tomates vivia Luiz José , o mais velho dos filhos homens de dona Carmem e seu Avelino.
Foi com o pai que os dois irmãos aprenderam a cantar. Impulsionado pela vontade de vencer na vida, Luiz José foi o primeiro a procurar na música o caminho para fugir dos agrotóxicos usados nas plantações. Em Goiânia e pelas estradas do interior do estado conheceram muita luta, cantando juntos, dividindo o quase nada, unindo-se cada vez mais como que se preparando para uma caminhada que os levaria ao estrelato. Há lembranças fortes, como a de um adolescente comprando não um tênis da moda mas um cobertor à prestação. Já era a garra do nosso Leonardo sendo revelada.
Muita luta depois, se tornaram artistas famosos. Viagens, prêmios e alegrias não tiraram dos dois irmãos a fidelidade à família, ao interior, à querida Goiânia para onde agora fugiam em cada curto espaço de tempo livre na sempre lotada agenda de shows e compromissos. A chegada à cidade era sempre um momento marcante para aqueles dois vitoriosos que iam em busca dos amigos da infância pobre e do carinho da família unida. A vida mudou e tudo fazia crer que dali para a frente seria apenas ver crescer o sucesso e desfrutar de tudo que com tanto sacrifício haviam conquistado.
Sem que pudéssemos acreditar, vimos acontecer o inesperado. Nosso mundo estremeceu; o de Leonardo desabou. De um momento para outro a alegria do seu canto e do seu olhar se transformaram num quase heroísmo de estar no palco. Foi na partida de Leandro que a coragem de Leonardo, sempre tão protegido pelo irmão, foi colocada à prova.<,br> Por vários meses vimos um Leonardo fragilizado, olhar perdido, sofrendo de pé. Como ele disse certa vez, "seguindo em frente como uma bicicleta, que se parar cai." Se até ali gostávamos muito da sua música, da dupla com seu irmão Leandro , passamos, então, a ter uma forte admiração pelo ser humano Leonardo.
Leandro se foi e nos deixou dois Leonardos: um que brinca, ri, conta piadas; outro que pede colo, para sempre fragilizado pela perda daquele que sempre foi seu 'porto seguro', aquele misto de irmão e pai, protetor, um pouco repressor, um temperamento reservado que contrabalançava o irrequieto jeito de ser do seu querido "Leozinho". (fragmento)