EM NOME DO AMOR

jornal eletrônico
Leandro & Leonardo
LEONARDO

nº 99 – 15 setembro 2008
redação e produção: Vera Marchisiello
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vmllena@terra.com.br





Com uma saudade enorme, no sábado 13 de setembro partimos para Casimiro de Abreu, cidade distante somente duas horas de carro daqui da minha casa em Niterói. Fui tensa, pois não havia uma só vaga nos hotéis e pousadas da pequena cidade fluminense e sendo assim teríamos que retornar de madrugada. Não gosto de dirigir tarde da noite, pela madrugada, mas até que era um medo um tanto sem fundamento, já que por aqui ainda estamos razoavelmente livres da violência que tomou conta do Rio de Janeiro. Tensa ou não, perder um show do Leonardo numa cidade tão próxima não passava pela minha cabeça. E lá fui eu com os amigos Rosane e Dr. Roberto. Às 16 horas já estávamos no local. Tudo muito bem organizado, eu poderia dizer que perfeito se não fosse o problema de sempre de um palco excessivamente alto, o que é absolutamente desnecessário, pois fã algum conseguiria ultrapassar a barreira de seguranças e ainda escalar um palco de altura média. Mas fazer o quê? As produções locais nunca vão entender que os fãs mais dedicados ao artista são aqueles que chegam cedo para vê-lo de perto e que, ficando ali na frente, não podem ver todo o palco e nem mesmo o artista por inteiro. No máximo o vemos e fotografamos do joelho para cima. A chuva que não estava anunciada chegou para desafiar nossa determinação. E chegou forte, com raios e trovoadas que esvaziaram bastante a feira de agropecuária. Por quase duas horas praticamos o ir e vir entre nosso ambicionado lugarzinho na grade e os toldos dos restaurantes da feira. Não havia nenhum vendedor de capas de chuva, mas para nossa sorte Dr. Roberto havia levado uma, japonesa, que acabara de ganhar do filho. Com direito à capa com capuz, ficou para ele a incumbência de guardar nosso lugar cada vez que uma nova pancada de chuva nos obrigava a correr em busca de abrigo. Procurávamos no céu a luz de uma estrela, aquela que chamamos de Leandro por sempre estar à direita do palco. E ela acabou aparecendo para nos dizer que nossa persistência seria premiada. Aos dez minutos do domingo, a voz inconfundível de Leonardo fez meu coração disparar. “Um sonhador”.


O momento de sermos vistos e reconhecidos por Leonardo é sempre muito esperado, pois não vamos aos shows só para vê-lo, mas também para levar a ele nosso aplauso, nosso carinho, nosso grande amor.

E é fácil perceber o quanto ele,
sensível que é,
percebe o que cada fã espera.
Com um sorriso direcionado,
uma piscadinha ou um gesto,
Leo diz que nos viu
e nos deixa num estado
de total felicidade.

Pelo repertório escolhido, o show está muito bem equilibrado, alegre sem perder o romantismo, com a homenagem a Leandro apresentada de forma bem leve, poupando um pouco Leonardo, que a cada dia mais se firma como cantor solo e agora já parece se sentir seguro para entre as vinte e duas músicas do roteiro inserir oito dos seus já inúmeros sucessos gravados depois de 1998.

O Leonardo que vi no show em Casimiro de Abreu me deu o que pensar não só enquanto dirigia de volta a Niterói como em vários momentos nessas já quase vinte e quatro horas após o show. Sei que cada uma de suas apresentações tem sempre um sabor diferente, já que Leo está longe de ser uma “máquina de cantar” como acaba acontecendo com alguns artistas depois que alcançam muito sucesso. Seu canto é o reflexo do seu interior, do que sente no momento, e até arrisco dizer que por sua expressão facial, pelo gestual e até por sua maior ou menor movimentação no palco fica bastante fácil perceber seu estado emocional. É só observá-lo um pouco.

Em Casimiro ele cantou de forma muito apaixonada em alguns momentos, ansioso e irrequieto em outros.



Leonardo não dispensou a chance
de fazer o público rir muito
ao afirmar, convicto, que
“difícil não é carregar o chifre;
difícil é sustentar a vaca!”
E assim como nas músicas
mais românticas
Leonardo se entregou por completo,
parecendo viajar
em suas próprias vivências
e levando o público
a acompanhá-lo nessas viagens,
pareceu colocar uma certa fúria em
“Mentirosa” e “A malvada”.
Enfim, um artista que vive o que canta.

Presença de espírito e capacidade de improvisação não lhe faltam. No final do show em Casimiro de Abreu, ao encontrar dificuldade para ler o que haviam escrito sobre a festa da cidade, mas percebendo que se tratava de data comemorativa de algum aniversário, não teve dúvida, aproximou-se de um dos músicos e imediatamente sua competentíssima e muito entrosada banda atacou um bonito “Parabéns”, que Leo, com total simplicidade, cantou alegremente ao microfone.


Observando sua fisionomia no Programa Hebe Camargo deste 15 de setembro, um filminho se forma em minha mente, rapidamente me fazendo lembrar de fatos, pessoas e épocas que com certeza moldaram o Leonardo que temos hoje, firme, atento, talvez ainda com um pouco da ingenuidade própria dos bons e que provavelmente nunca perderá, mas um homem conhecedor do mundo em que vive.

No início do seguimento solo de sua carreira, Leonardo estava justificadamente inseguro, mas não o artista somente e sim o ser humano, ainda muito jovem para passar por tão dolorosa perda. Lembro-me bem de quando ele se definiu “como uma bicicleta, que se parar cai”. Era natural que, estando tão fragilizado, tenha se deixado conduzir por aqueles que o cercavam e que como profissional ainda se sentisse despreparado para tomar decisões mais sérias. Foi assim que, felizmente, ele teve seus dois primeiros shows entregues à direção do competente Miguel Falabella e se tornou o primeiro cantor brasileiro a ter um show lançado em DVD.
Mas se também naquela época algumas questões não foram bem conduzidas e acabaram não trazendo bons resultados, de alguma forma serviram para que Leonardo tomasse as rédeas e aos poucos fosse percebendo que era preciso estar à frente de tudo, sem dúvida uma sobrecarga para alguém com uma agenda já suficientemente cansativa. Cheio de compromissos, penso que é a união de sua inteligência com sua garra que lhe permite ser capaz de pelo menos estar atento já que é impossível estar inteiramente à frente de tudo. Hoje ele sabe o quanto atitudes erradas de quem quer que de alguma forma o represente geram críticas contra ele que pode até não saber até que ponto seus fãs podem estar magoados como se fosse ele o culpado. Então, hoje ele sabe que é preciso estar atento a tudo que envolva seu nome.
Todos que o conhecem bem ressaltam a bondade do seu coração, definido como maior que ele. Sempre buscando compreender os que o cercam, seja por laços profissionais ou por amizade, hoje, entretanto, Leonardo sabe que os golpes podem partir de onde e de pessoas que jamais imaginaríamos. Leo continua sereno na análise das decisões que precisa tomar, discreto em sua vida pessoal, fantástico como artista, um ser humano exemplar que já recebeu da vida uma dose reforçada de sofrimento e que merece ser feliz.

Em Casimiro de Abreu, consolidei minha impressão de que Leo está amadurecido não só como artista, mas como pessoa. Eu o percebo agora como um homem que tem seus objetivos e pretende lutar por eles. Trabalha demais, numa profissão extremamente desgastante, com noites mal dormidas, em locais nem sempre tão confortáveis quanto ele mereceria, intercaladas por outras em que tem o que busca e merece. Essa instabilidade, embora tenha o lado bom de não criar uma rotina, de alguma forma também acaba sendo desgastante. Só mesmo com muita compreensão com a própria vida e com o que ele possa ambicionar para se sentir feliz é que Leonardo pode ir trilhando essa tão difícil estrada de quem se tornou famoso e agora acaba tendo que pagar o alto preço da perda de privacidade, de não ter sua rotina com aqueles a quem ama, de não poder viver um dia-a-dia como o das pessoas comuns.


A segurança adquirida como profissional, sua vivência como pai que vê os filhos crescendo e até já escolhendo seus próprios rumos, sua vida de filho perfeito e responsável que abraça uma família enorme com muito carinho e dedicação são alguns fatores que acabam se refletindo em seu comportamento no palco e na televisão. Hoje Leonardo já não se deixa levar por abordagens nem sempre muito convenientes de alguns programas de que participa. Um bom exemplo foi sua recente participação no Casseta & Planeta.


Leonardo já foi até duramente criticado por algumas vezes ter embarcado em brincadeiras de apresentadores ou roteiros de programas muito aquém de seu talento como artista com tantas qualidades e um lindo repertório a ser mostrado. Hoje, porém, ele tem uma postura bem diferente, firme, de quem sabe se impor. Alegre, sim, descontraída também e espero que para sempre, mas uma postura de quem sabe o que quer e o que representa no cenário musical de nosso país, de quem se tornou um exemplo de garra, de superação, de inteligência, de até onde o talento pode levar alguém. Enfim, não somente um artista, Leo é um ser humano muito especial de quem me orgulho de ser fã.