- Leonardo, nesse novo CD “Tempo”, você está mais romântico, menos sertanejo. Por que essa mudança de estilo?
E a partir de agora, com esse novo trabalho, o que você vai trazer de referência da dupla Leandro & Leonardo?
LEONARDO – Eu acho que nesse primeiro disco solo, romântico sim eu posso dizer, eu não mudei de estilo. Eu acho que esse disco para ser um disco de Leandro & Leonardo só faltou a voz do meu irmão. Eu acho que se ele estivesse vivo hoje, noventa por cento desse repertório seria aprovado por ele, com certeza. E na verdade a dupla Leandro & Leonardo nunca foi uma dupla de gravar músicas de raiz, aquelas músicas de viola, nunca gravei nenhuma, e sim as músicas mais dançantes, como foi “Entre tapas e beijos”, “Mexe mexe”, “Festa de rodeio”, e agora, nesse disco, “Bota pra remexer”. Então, a origem da dupla Leandro & Leonardo é do interior, das lavouras, mas o estilo nosso sempre foi um estilo mais pop, e eu vou procurar sempre manter esse estilo do romantismo da dupla Leandro & Leonardo. - Esse seu CD já está saindo com uma tiragem inicial de um milhão de cópias e os músicos sertanejos têm sido vítimas sempre da pirataria e têm feito campanhas para combater essa prática. Eu gostaria de saber de você se, ao invés de combater a pirataria, não seria mais proveitoso fazer uma campanha junto às gravadoras para baratear os CDS. LEONARDO – O difícil é saber de onde vem a pirataria; onde começa a pirataria. Antes de o disco oficial sair nas lojas, já tem pirataria nas ruas. Então a gente tem que botar um olheiro, um cara dentro das gravadoras. Eu não estou dizendo que são as gravadoras que mandam o disco para piratear, entendeu? Mas eu não sei como têm pessoas que têm acesso. Primeiro tem todo mundo nas gravadoras e esse disco pirata sai primeiro. A campanha contra o disco pirata está sendo feita, tem melhorado muito. A Polícia Federal está dando em cima, principalmente em São Paulo está pegando muito disco pirata, tem melhorado um pouco. No começo do ano, o Só Pra Contrariar reclamou muito porque o CD deles estava sendo muito pirateado. Na companhia das gravadoras, os artistas foram a uma reunião em Brasília, ao Senado. Agora parece que estão segurando mais. E com essa mudança da moeda brasileira também, eu acho que deu uma parada na pirataria, acho que dificultou um pouco. - Mas ainda tem um preço muito salgado. Não seria ao caso de baratear? LEONARDO – Eu acho que um disco por vinte reais é caro, de qualquer artista que seja. Porque o disco pronto, com a capa e tudo, fica por dois reais. - Após um ano da morte do seu irmão, Leandro, surge o CD com o título “Tempo” e a música de trabalho, uma regravação de uma música do Roberto Carlos, fala de uma pessoa que deixa para trás uma fase triste e quer seguir em frente. É apenas coincidência ou faz parte da nova fase do Leonardo? LEONARDO – O disco chama-se “Tempo” devido a essa transição de tempo que realmente eu passei e estou passando na minha vida. A dupla Leandro & Leonardo acabou ano passado devido à morte prematura do meu irmão Leandro. Então o disco se chama “Tempo” por causa disso. Mas a música “120...150...200 km por hora” foi uma coincidência muito grande que aconteceu no disco. Para mim, eu estava cantando uma música apaixonada, falando de um grande amor, de um grande romance. De repente muita gente já leva para outro lado, é ele saindo a duzentos por hora porque quer deixar para trás o tempo de dor e sofrimento por que passou no ano passado. Então eu acho que cada um pensa do jeito que quer. O lado romântico e o lado do sofrimento que passei e continuo passando agora nesse momento estão lá. Ontem, quarta-feira, fez um ano que meu irmão morreu, e a imprensa lembrou profundamente da morte do meu irmão, a imprensa do Brasil inteiro. Para dizer a verdade, eu fiquei feliz em ver a imprensa ligada. Goiânia, ontem, estava cheia de repórteres de todo o Brasil. Fiquei até comovido. Ontem teve a missa, a igreja estava superlotada, muitos repórteres de todo o Brasil. Eu cantei a música “Mano” lá na missa e até esse foi um momento de muita comoção, de muita emoção mesmo. - Como foi a história da música “Mano”, que está no seu novo CD? LEONARDO – Essa música nós deixamos para escolher por último. O disco estava pronto e pintaram mais ou menos umas vinte músicas homenageando o Leandro, de toda parte do Brasil. Quando já estava quase decidido por uma música que veio do Rio de Janeiro, numa gravação do programa “Amigos & Amigos” Chitãozinho e Xoxoró me convidaram para ir ao camarim deles e disseram: “Olhe, tem uma música aqui que veio para a gente, faz dois anos, mas a gente não conseguiu gravar”. Aí, juntos, fizemos a adaptação e ficou maravilhosa. Essa música, “Mano”, fala do nosso começo de carreira, saindo do interior para Goiânia e para São Paulo. A segunda parte fala do que meu irmão sofreu, dos sessenta dias em que ele ficou internado, fala do exemplo de vida que ele passou para nós, para nossa família a para muita gente que sofre com o mesmo mal. Então eu achei a música a melhor e a escolhi. - Existe uma música “Um Sonhador”, onde você cita um trecho que não sabe exatamente aonde ir. Após um ano sem seu irmão, você sabe exatamente aonde ir ou está repensando muita coisa na sua carreira? LEONARDO – Para falar a verdade, eu ainda não sei aonde ir, não. Acho que continuo meio perdido ainda. Acho que o furacão passou muito forte. Foi uma coisa inesperada, muito rápida. Eu tenho tido ajuda de muita gente experiente no ramo da música, do marketing. Por esse lado acho que estou indo bem, tenho uma gravadora muito forte por trás disso tudo, que é a BMG. Nessa parte eu sei para onde vou porque eles estão me conduzindo, mas a cabeça, realmente, se dependesse de mim, eu estava mais perdido que cachorro em carro de mudança. - Você descartou a possibilidade de arrumar um parceiro? LEONARDO – Eu pretendo seguir minha carreira solo porque a dupla Leandro & Leonardo só existiu uma e o lugar do meu irmão ninguém vai ocupar. Dentro da minha casa eu tenho dois irmãos que cantam, uma dupla que se chama Karlos & Allessandro. Eu poderia muito bem colocar um deles para cantar comigo. Mas o pedido do próprio Leandro, quando ele se internou pela primeira vez no Hospital São Luiz, em São Paulo, foi que se eu fosse cantar, cumprir os shows que estavam agendados, era para eu cumprir sozinho, porque eu dava conta do recado. Ele falava: “Eu conheço muito bem o seu potencial e você vai sozinho, porque se você for cantar com um irmão eu estarei praticamente assinando minha desistência, a minha sentença, então vai sozinho que você vai dar conta. Todo dia você me liga depois do show para a gente conversar”. Então pretendo seguir sozinho e dando força para meus irmãos que estão batalhando também. O próprio Thiago, filho do Leandro, que canta muitíssimo bem, já tem duas gravadoras interessadas nele e no meu filho Pedro. Então só depende deles. Estão fazendo aula de canto, piano, violão e espanhol. Eu acho que eles vão começar melhor do que nós começamos, eu e o Leandro. - Essa é a terceira vez que você vem a Campina Grande. De lá para cá muita coisa tem mudado em sua vida. Nessa nova fase o que representa gravar Roberto Carlos? LEONARDO – De lá para cá mudou muita coisa. O tempo diminuiu. Aquele tempo que a gente tinha para curtir família, a nossa casa lá em Goiás. Tudo mudou muito. Eu e o Leandro passamos a trabalhar muito mais, as responsabilidades se tornaram muito maiores, e hoje eu acho que mudou ainda mais porque antes éramos dois. A gente dividia as responsabilidades. Se eu ia para um lado escolher repertório, o Leandro ia para outro marcar estúdio, ensaiar com os músicos, passar som. Então hoje eu estou trabalhando muito mais porque tudo depende de mim, só de mim. Para mim, gravar Roberto Carlos foi uma coisa boa. Todo mundo regrava Roberto Carlos, mas todo mundo regrava seus grandes sucessos. Eu acho que “120...150...200 km por hora”, que foi gravada há trinta anos atrás, foi diferente porque acho que muita gente nem se lembrava mais dessa música. Foi idéia do meu produtor, César Augusto, que pediu para a gente ouvir essa música. Ouvindo com o Roberto Carlos, eu achei que ficaria legal com a minha voz. Passei com o maestro na hora, só piano e voz. Gravei com o maestro Chiquinho, que fez esse arranjo há trinta anos e realmente ficou emocionante. É uma música muito bem gravada que o Brasil inteiro está cantando novamente. - O que representa esse novo trabalho para você? É uma despedida de uma carreira ao lado do seu irmão? LEONARDO – Eu acho que a despedida ao lado do meu irmão foi só para os fãs que hoje não têm mais o Leandro, mas para mim eu acho que não vai ter despedida nunca porque para mim meu irmão vai estar sempre no meu coração, na minha cabeça. As lembranças dos momentos que passamos juntos durante quinze anos de carreira, de estrada, jamais vão se apagar. Também, por outro lado, “Tempo”, CD e show, estão marcando o inicio de uma nova fase, uma nova carreira. Porque hoje esse show do Olympia, que já é um sucesso muito grande e tem a direção do Miguel Falabella, é um show super moderno. Mas no mesmo show nós não esquecemos as nossas raízes cantando músicas que falam do interior, da terra, temos no meio do show um pout-pourri de forró, aqui relembrando Luiz Gonzaga e outros cantores famosos do Nordeste. É um show para agradar a todo mundo. Também no começo do show tem aquela tecnologia toda, aquelas motos no palco, relembrando os anos sessenta, um movimento muito forte que teve nos anos sessenta, que tem tudo a ver com a música que estou cantando, “Cumade e cumpade”, e com “Bota pra remexer”, que está no novo CD. - Dentre tantas lembranças, qual o momento em que você pensa mais no seu irmão? Quando você se entristece mais é durante o show, foi durante a gravação em estúdio ou é no camarim? LEONARDO – Durante a gravação do disco, com certeza, porque são dois meses de gravação. Todas as noites a gente estava junto e ele era apaixonado por estúdio. Então toda hora que a gente olha para aquele sofá que tem no canto do estúdio parece que ele está presente. E ele dava palpite em tudo. Ele era um cara em que eu confiava cem por cento. Porque ele falava: “Leonardo, vai pra casa, descansa sua voz e depois vem pôr voz no disco. Deixa aqui que eu resolvo”. Desta vez a falta foi muito grande, quem teve que resolver tudo fui eu e tinha que ficar sentado ali junto com os produtores do disco. Ele fez uma falta muito grande no estúdio, a lembrança foi muito grande. - O que representa para você essa parceria, Leonardo e Ilobrás nessa grife? LEONARDO – Para mim representa muito! Chegando aqui, primeiro tendo o privilégio de voltar a Campina Grande, depois de muito tempo. Se não fosse essa paceria, a gente não estava aqui. Tive a oportunidade de fazer esse trabalho. Estou vendo o marketing muito bonito. Já cheguei assim, vendo a minha cara em tudo quanto é lugar aqui. Estou muito feliz. Se depender de mim eu quero estar mais vezes em Campina Grande, trabalhando bastante, porque isso aí é uma parceria muito saudável. - Pegando o gancho da questão empresarial, isso é só uma ponta do iceberg? Vem mais coisa por aí? LEONARDO – Estou para o que der e vier. - A renda do último CD em dupla foi revertida para investimentos sociais na área de tratamento de câncer. Como está esse investimento na área social e qual a pretensão do Leonardo de continuar investindo nisso? LEONARDO – Esse projeto foi feito pelo Leandro e a gravadora BMG, antes de o Leandro descobrir que estava com câncer. A gente procurou doar uma parte do disco “Um Sonhador”, que foi um disco que já vendeu três milhões de cópias, para o Hospital do Câncer em Barretos, em São Paulo e em Goiânia. Hoje estamos com um projeto para fazermos em Goiânia um centro de apoio chamado Casa de Apoio São Luiz, para duas mil pessoas, aquelas pessoas que vêm de outras cidades, de outros estados, para consulta e não têm lugar para ficar, comer, tomar banho. A minha mãe está encabeçando tudo isso. Antes, para apagar um pouco da dor, ela já quis uma coisa muito rápida. Nós tínhamos a primeira casa onde a gente morou lá em Goiânia. Nós fomos lá, a ampliamos, fizemos lá vinte e cinco quartos com ar, tudo bem arrumadinho, com visita dos médicos todos os dias. Foi uma coisa só para começar e hoje o projeto é maior, temos uma área de cinco mil metros quadrados em Aparecida de Goiânia para fazermos esse centro de apoio para ajudar esse pessoal carente que não tem condição de ficar em hotel, não tem parentes nas capitais. É uma coisa legal. Acho que é o mínimo que a gente pode fazer. - Como é participar de uma festa popular como o São João, diferente dos rodeios e das tradições que você já conhece fora do Nordeste? LEONARDO – Participar dessa festa é motivo de muita alegria para mim. Dizem que é a melhor festa de São João do país. Hoje era para eu estar em Salvador, no show, no Arraiá da Capital, mas acabei vindo fazer o show aqui. Estou feliz por estar aqui. É uma pena que depois eu não posso sair para ver de pertinho. Eu vejo na televisão a alegria do pessoal, a briga de Caruaru com Campina Grande... Não tem essa disputa? Pois é! Mas o importante é que é tudo festa. Aqui, enquanto o povo lá fora disputa no tiro, briga, canhão, o povo disputa a felicidade de quem faz a melhor festa. - Fama, beleza, riqueza... É difícil administrar tudo isso? LEONARDO – Rapaz, você falou “uns trem” aí que eu não tenho nenhum! Olhe, a fama é difícil de administrar porque você passa a ser uma pessoa pública, não pode ir àqueles lugares que ia antes. Poder pode, só que com a cabeça bem enroladinha. Esses dias no programa da Xuxa, só porque eu mostrei as pernas, o povo ficou todo brabo, falando que eu tinha mostrado a bunda, que era aqui... Nada! - A cueca era cinza? LEONARDO – Nada! As revistas mandaram a lenha falando mal, depois quando o programa foi ao ar ficou todo mundo com a cara de pau, ninguém viu nada. Então é difícil. Eu sou um cara que gosta muito de ir pra barzinho, jogar futebol, em qualquer lugar eu vou, só que fica difícil. Mas quando eu saio de casa, por exemplo, para ir bater uma pelada, eu já vou preparado para tudo, para atender aos fãs que lá estão esperando, tirar foto, jogar futebol. Agora, quanto a esse negócio de dinheiro, eu não tenho, e beleza muito menos. - A fama mexe obrigatoriamente com a cabeça? LEONARDO – A fama mexe. Você muda totalmente sua vida. Você muda radicalmente sua vida. Veja bem. De um simples plantador de tomate lá de Goianápolis, a gente passa a ser uma pessoa assediada em qualquer parte do país que eu vou. Então realmente mexe um pouco. Às vezes eu pergunto: Será que eu mereço tudo isso, será que é verdade, realidade o que estou vivendo hoje? Porque a gente sempre almejou o sucesso, mas a gente nunca pensou que fosse ser um sucesso tão grande. Numa carreira de apenas treze discos gravados, vinte milhões de discos vendidos é muita coisa! É um fenômeno de vendagem em todo o país. Então realmente mexe, sim. Só que dinheiro não mexe com a minha cabeça, nunca mexeu e jamais vai mexer. |