jornal eletrônico
Leandro & Leonardo
LEONARDO

nº 89 – 15 novembro 2007
redação e produção: Vera Marchisiello
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vmllena@terra.com.br




No mês passado, falei da esperança de que Leonardo fizesse show na região dos lagos ou em cidades da serra fluminense. Cidades tidas como interioranas, onde ainda é possível chegar sem se expor ao alto risco da violência que assola o Rio de Janeiro e a Baixada. Qual não foi minha surpresa quando logo dois dias após a distribuição do jornal eletrônico veio a notícia de que haveria um show em Búzios, região dos lagos, no dia 11 de novembro! Os seguintes vinte e cinco dias foram de total expectativa para mim e alguns amigos que desde 28 de julho de 2006 não haviam tido a oportunidade de ver um show do Leo aqui no Estado do Rio. Foi em Friburgo, cidade serrana distante cerca de duas horas e meia daqui de Niterói. Um show lindo numa cidade de povo extremamente educado. Na época, escrevi:
F
R
I
B
U
R
G
O
Que conforto um show de estrada assim. Mesmo que no brete estivessem todos os felizardos que haviam ido ao camarim, a segurança local agiu com inteligência e respeito ao público que chegou cedo para ficar bem na frente, na primeira fila junto à grade, que bem podia ser um pouco mais próxima do palco. A equipe de segurança fez uma barreira humana separando o brete de uma forma que os que vinham do camarim eram direcionados para bem junto do palco, ficando atrás do cordão de segurança, deixando livres cerca de dois metros, de modo que à nossa frente não ficou sequer uma pessoa a nos tirar a visão do palco. Perfeita solução que deveria ser imposta pela produção dos artistas aos seus contratantes. Tenho certeza de que se alguém dos escritórios dos artistas experimentasse chegar ao local dos shows em média oito horas antes do início dos espetáculos, como fazem os fãs mais ardorosos, entenderia o quanto é doloroso vermos o brete se encher de gente, uma massa humana que chega minutos antes do show e se planta à frente daqueles que foram para o local do show em busca daquele tão batalhado lugar na primeiríssima fila.


Entretanto, sobre o show em BÚZIOS neste domingo, 11 de novembro, não há como escrever algo assim.
Também impossível fazer qualquer crítica à produção local,
aquela que deveria se preocupar com a qualidade do evento,
aquela que deveria respeitar o artista contratado e seu público que, afinal, vai não só ao show,
mas até mesmo à cidade somente para ver seu artista favorito cantar.
Simplesmente não houve produção local alguma.
Só posso dizer que a impressão que nos deixou foi de que
só se preocuparam mesmo em armar um palco absurdamente alto
com uma caixa de som enorme presa na parte superior do paredão frontal,
como se houvesse mesmo a intenção de agredir aqueles que passam horas e horas
aguardando para (não) ver o artista,
aqueles que, como eu e muitos amigos,até mesmo viajaram de outras cidades
para matar a saudade do nosso querido Leonardo .

O mais importante item de uma boa produção local sem dúvida deve ser a segurança do artista e de seus fãs durante o espetáculo.Grade de brete e homens preparados ali posicionados para manter a ordem teria que ser questão prioritária ao se fechar um contrato.

Já que vi muita gente criticando veementemente Leonardo por fazer um show com um palco tão alto, sem brete e sem seguranças no local, gostaria de esclarecer que a escolha do palco, a posição da grade de isolamento, a segurança que deve haver não só para impedir que alguém suba ao palco e surpreenda o artista, mas também para garantir a ordem entre os fãs e que estes não sejam perigosamente importunados por pessoas embriagadas, que sempre acabam se fazendo presentes nessas festas populares, são tarefas da produção local e não da produção do artista, a quem cabe somente a montagem do equipamento de som e luz e a segurança pessoal do artista.

Em Búzios, o brilhantismo de Leonardo foi profundamente ofuscado pela situação de risco a que nós, fãs, fomos expostos num show em que se desconheceu inteiramente o que seja produção local. Grade de segurança? Não, lá ninguém cogitou em colocá-las, por mais que as discussões e até mesmo agressões físicas tenham começado a surgir tão logo pessoas sem qualquer educação e muitos bêbados começaram a chegar e se posicionar à frente daqueles que, como eu mesma, haviam chegado ao local às 4 horas da tarde para garantir o ambicionado lugarzinho na primeira fila, logo atrás da grade do brete. A verdade é que os fãs legítimos são aqueles que chegam cedo e que sempre vão para os shows rezando para que haja por parte da produção local um pouco de respeito por eles, fãs dedicados, não permitindo que o brete acabe abarrotado de pessoas que muitas vezes ou quase sempre nem fãs verdadeiros são, e sim apenas oportunistas ou privilegiados que após a ida ao camarim são para lá encaminhados e se preocupam muito mais em conversar e se exibir do que em assistir ao nosso adorado cantor.

Em Búzios cheguei a ver uma senhora ser empurrada por um bêbado e suas duas enormes (de tão gordas) acompanhantes. Debaixo de chuva razoavelmente forte, protegida apenas por uma capa plástica comprada lá mesmo, a senhora em questão estava, havia algumas horas, tentando garantir seu lugar onde deveria ser a primeira fila após a grade que infelizmente não foi colocada. Insultada e empurrada, sem poder recorrer a um só segurança, ela acabou saindo de lá com o joelho ralado e culpando Leonardo por não exigir maior organização em seus shows, já que não foi a primeira vez que foi agredida verbalmente por pessoas sem educação que alegam tratar-se de um lugar público. Sim, o lugar é público, mas será que essas mesmas pessoas concordariam se outras se posicionassem à frente delas? A resposta veio clara em pouco tempo e novas confusões se formaram, pois os mesmos que chegaram já perto das 22 horas e agrediram os que lá estavam desde cedo, logo foram encobertos por outros espertinhos que à frente deles se colocaram. E não aceitaram, claro. Buscar um segurança que solucionasse a questão foi missão sem sucesso. Não havia na área um só segurança.

O show estava marcado para meia noite, mas aos vinte minutos já do dia 12 ainda nos proporcionaram uma “atração” extra. Ainda tivemos que suportar por uma hora e vinte minutos as tolas brincadeiras e o puro exibicionismo de dois radialistas de uma emissora local, que nem sob sonoras vaias desistiram de falar bobagens e jogar camisetas para o público, gerando mais problemas para aqueles que foram lá porque amam Leonardo e não para disputar camisetas. Há que se considerar que entre os fãs há sempre muitas crianças e idosos, que ganham cotoveladas e empurrões violentos daqueles que tentam pegar um desses brindes. Já estive presente a um show do Leonardo, no Clube Mauá, em São Gonçalo, em que o patrocinador jogou latinhas de cerveja, objeto por si já pesado e que com a velocidade do lançamento causou ferimentos em algumas pessoas.

E aí, o que dizer? Por que essas coisas acontecem e com certeza o artista não sabe nem tem como saber? Exatamente, ele não tem como saber, já que chega e vai direto para o camarim receber imprensa e autoridades, organizadores do evento e até alguns fãs. E é este o seu papel. Só que é ele o criticado, é ele que acaba por deixar de ter em seus shows a presença dos verdadeiros fãs, daqueles que se dispõem a acompanhá-lo até em outras cidades, fãs que ele gosta de ver nos shows de estrada e diz isso com freqüência, fãs que o emocionam com sua dedicação e carinho. Sim, ele gosta de nos ver. E nós gostamos muito quando percebemos que fomos reconhecidos ali na frente. Vamos ao delírio quando ele tenta nos presentear com uma toalhinha ou algum acessório usado no show.

Tenho certeza de que se Leonardo soubesse o que acontece em shows mal organizados ele não permitiria que essas coisas acontecessem. Só mesmo se algum dia ele souber poderá tomar providências junto aos responsáveis pela venda dos seus shows para que algumas exigências básicas sejam feitas. Que exigências? Aquelas que garantiriam a segurança de seus fãs e o respeito especial pelos mais dedicados, aqueles dispostos a consideráveis sacrifícios para poderem estar na tão sonhada primeira fila atrás da grade do brete. Não é à toa que chegamos cedíssimo para podermos ficar num lugar de onde podemos vê-lo e fotografá-lo sem dificuldade e de onde temos a alegria de saber que ele nos viu, recebeu e entendeu nosso carinho.
Grade delimitando os espaços e brete ocupado somente por seguranças já seriam o suficiente.

Bom, depois do que pode parecer ter sido um desabafo, e talvez tenha sido, mas que com certeza foi uma tentativa de fazer com que as pessoas entendam como tudo acontece e como é a distribuição de tarefas e responsabilidades na organização de um show, chego enfim ao esperado momento da entrada de Leonardo no palco.Eram quase duas horas da madrugada quando meu coração disparou ao ouvir a banda dar início a “De latinha na mão”. Não dava para ver os músicos, muito menos a entrada de Leonardo no palco, mas pela gritaria do povo posicionado mais para trás entendi que ele já estava ali. Em poucos segundos, todo aquele carisma, aquele sorriso, aquela alegria por estar no palco dominou o público.

À minha frente, muitos braços se levantavam e eu ia perdendo uma foto atrás da outra. As músicas foram passando e eu me irritando com pessoas bêbadas à minha frente, totalmente alheias ao artista, apenas pulando, gritando bobagens como se estivessem num show sei lá do quê, com certeza não no show do seu artista preferido, provavelmente apenas num show qualquer. Os mesmos que fizeram questão de ficar à frente de fãs que, como nós, haviam chegado no meio da tarde, agora estavam até de costas para o palco. Fortalecidos pela total ausência de seguranças, apenas perturbavam os que queriam ver o show. Eu estava bem no centro do palco e só via Leonardo quando ele chegava bem na beirinha daquele paredão onde havia pendurada uma enorme caixa de som .


Eu me esticava para tentar garantir fotos para o jornal e o site EM NOME DO AMOR. Afinal, quantos fãs e leitores haviam me pedido que tirasse muitas fotos! Levada por tal propósito e observando que aos poucos algumas crianças iam se posicionando ali na frente, num impulso me vi avançando mais para frente. Fui me infiltrando entre os que ali estavam sem qualquer atenção com o show e alguns fãs que iam até ali e voltavam para o meio do povo. Eu precisava tirar muitas fotos para vencer a irritação que justificadamente havia tomado conta de mim depois de tantas horas de frustração num ambiente pra lá de pesado, entre pessoas tão mal educadas, num local totalmente despreparado para receber um artista como Leonardo .

Uma fã que também havia chegado cedo, uma garota daquelas que impõem respeito pelo seu tamanho e peso, resolveu me dar cobertura. Disse que eu podia ficar na sua frente sem problema. Foi então que comecei a circular de um lado para outro da tal caixa de som, buscando ver Leonardo e conseguir as fotos que acabariam por me dar a real visão do show.


Eu o percebi cantando muito, como sempre, bastante intimista a maior parte do tempo. A voz estava limpa, maravilhosa, apesar de ele ter vindo do Nordeste naquela tarde, onde havia feito muitos shows seguidos durante cerca de vinte dias, intercalados por uma fugida a São Paulo para um show no dia 5. Mas parecia um pouco irritado nessa noite em Búzios. Não sei se estou certa, mas me pareceu. A todo momento Leo fechava o punho com força, dando grande ênfase ao que cantava. Pela transparência da pele, dava para notar a concentração do sangue na ponta dos dedos.


Mais uma cena das que presenciei ali onde deveria estar o brete, cenas que realmente não combinaram com um show de Leonardo: Num dado momento um baderneiro começou a soltar bombas no pé do palco. Não assustou somente as pessoas que estavam por perto, mas também Leonardo que enervado, numa postura de quem zela por seu público, mas num papel que deveria ser da (inexistente) segurança local, se dirigiu ao baderneiro fazendo uso do microfone para mandar que parasse com aquilo. Com toda razão de ficar irritado, usou de palavras fortes, palavras de quem é autêntico, humano, sensível e corajoso, de alguém que não se preocupou em se esconder atrás da postura de artista. Parabéns, Leonardo. Logo os próprios companheiros do baderneiro o levaram para fora dali.

Já pela metade do show, Leo me viu!
Para mim, a felicidade de ganhar de imediato
um beijinho da pontinha do dedo.
Claro que fico feliz por isso, sim,
porque sei que ele fica feliz quando vê na platéia
amigos e fãs que o seguem estrada afora.
Talvez ele tenha estranhado que aquela Vera
sempre quietinha nos shows estivesse ali
andando de um lado para outro,
câmera disparando o tempo todo.
Normalmente sou quieta, sim.
Não sou fã de gritar, pular,
mas de observá-lo, prestar muita atenção ao show
e aplaudir muito, como ele merece.
É o meu jeito. Mas ali...
Bendita câmera e obrigada àquela fã
que me permitiu ficar à sua frente
e me impulsionou para aquele espaço
de onde pude vê-lo sem ter que aturar
cenas que realmente não fazem parte
do que se espera ver num show de Leonardo.

Ao final, tive a impressão de que poderia ter ficado para mim aquele chapéu que ele usou no show. Não sei, mas seu olhar me disse isso. Só que de onde eu estava com certeza não pegaria se ele o jogasse. Leo o jogou na direção de uma das minhas amigas e de um amigo, que estavam um pouco mais atrás e que ele já conhece dos shows. Não foi desta vez. Uma daquelas pessoas que chegaram em cima da hora e ficaram ali na frente pulou para trás, o disputou com violência com uma garota e o tomou dela. Lei da força, fazer o quê... Depois de tudo, já na pousada, às quatro e meia da manhã, o que eu mais agradecia a Deus? Aquele beijinho amigo dado com carinho e que eu, tão perturbada com tudo que havia passado e que via acontecer ali próximo ao palco, nem sequer retribuí. Mas fico tranqüila porque tenho certeza de que Leonardo sabe muito bem o quanto para mim é importante vê-lo feliz por se saber cercado do carinho daqueles que o amam e respeitam, que o seguem para aplaudi-lo, que vivem cada show, sempre um grande show, como uma noite em que Deus nos dá de presente sua presença no palco, seu talento e sua dedicação à carreira nesse seu dia-a-dia de uma vida cheia de sacrifícios.


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